terça-feira, 16 de novembro de 2010

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Não é poema, não é conto, romance ou crônica; é a tal da vida, uma história fragmentada em acontecimentos pequenos que se prolongam ou grandes que duram pouco e podem ser intensos ou não. Massa da sociedade feita com duas pitadas de culpa, nove de paciência, dezoito minutos para crescer e colocada pra assar por tempo indeterminado no fogo do livre arbítrio, da consciência, da coletividade e competição até ser consumida por completo; parece simples, mas não é. Estou no forno; tenho aqui comigo um cigarro, um copo de água, alguns livros de teoria e um filme brasileiro passando. Parece que nada está ornando; o cigarro está com preguiça de queimar, como estou com preguiça de pensar, deve ser o barulho de chuva, do copo de água, que está caindo da nuvem que está sobre minha cabeça, já há algum tempo,  molha os livros de teoria, que me dão toda a teoria em que a prática não entra, e talvez até ela não adiante. Já é tarde. A madrugada é a prostituta mais sábia. Nos acolhe quando queremos e nem pestaneja quando passamos longe dela, comigo ela tem sido tão amável a ponto de me fazer brigar com os dias para noites inteiras ao seu lado. Sem ou com orgasmos ela não se apega. Nela, tudo e nada acontecem, de um buraco negro ao olho do furacão. O sentimento de que se pode mover tudo mesmo que deitado em uma cama, ou a impotência de se dar conta que tudo isso é apenas um simples devaneio. Ah, outro sentimento, quantos deles... Brinco de contá-los e de sentí-los, para que servem, de onde vieram? Ando consumido; brincando de ser humano, na madrugada que trai e me faz ser o que não posso; que é sábia mas é prostituta, não se pode confiar nela; ela pode me ter,  nela eu não posso meter.

4 comentários:

  1. Gabe, "não é poema, não é conto, romance ou crônica; é a tal da vida..." e como ja disse Gumarães Rosa: VIVER É MUITO PERIGOSO! né?
    Mas que bom que vc tem brincado de (aprendido a)ser humano. Acho que essa "brincadeira" vai até o fim de nossas vidas.. e eu quero sempre estar por perto pra ver os frutos de sua caminhada..

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  2. muito bom seu texto...
    pra conceituar 'vida', nem se juntar
    todos os pensadores mais loucos de toda a
    história... então no fim, podemos
    senti-la mas jamais entendê-la, qfoda!

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  3. Ávida vida a ventar.
    Violentamente veloz
    ou violetas sem voz, vazias

    Dela não há evidências,
    na nossa vez são só veias e vivências
    no vasto.
    Porém voláteis e volúveis
    vão como vêm.


    Há braços e bons textos por aqui.

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