segunda-feira, 9 de maio de 2011

20

Eu sou fruto dos frutos da terra vermelha
de gente que bebeu água de mina
que banharam no rio-beirão
Que vive, sente e chora diferente

E as flores que geraram os frutos
Tropeiros e donas de casa
Tomadores de cachaça
Cantadores de causos

Gente humilde, forte sangue quente
De sol, de rio, de minas
Sangue quente, jovem
Sangue sábio, velho

Eu não sou nada disso
Não nasci no ribeirão
Nem banho no mesmo rio
Nem tomo da mesma água

Não acredito em saci, não vi o diabo
Não viajo a cavalo, nem vi os escravos
Eu vejo o show da vida na tevê
Eu sofro e choro de medo de Etê.

E, ainda sim

Sou fruto dos frutos da terra vermelha
de gente que fazia novena
que acreditavam em milagres
maiores do que a luz elétrica
melhores do que o petróleo

Ô, meu Deus, faz voltar
Preu poder ouvir, dos cabelos brancos
A literatura das viagens
O belo colo da Vó Bela
O coisa e tar do Juvenar

Eu sou fruto dos frutos das Minas gerais

2 comentários:

  1. Filhos do caos, dos causos, e percalços
    Aplausos,
    poema mineiro, me deu vontade de tomar café com leite e comer broa na varanda

    ResponderExcluir
  2. Saudade da prosa do vovô e da poesia da vovó...

    ResponderExcluir